Festa da Coroa do Divino do Espírito Santo de BJI, secular e única no mundo com suas tradições e particularidades

Festejamos os 120 anos da Festa da Agosto e os 158 anos da Festa da Coroa Divino do Espirito Santo



A história da Festa de Agosto, com todo seu enredo e riqueza de detalhes que a consumaram, por si só, já justifica quando se adjetiva como “tradicional”, pois é o mais antigo festejo popular/religioso do estado...

...e talvez um dos raros no Brasil, ou até no mundo pois ela é notícia em Portugal e nos EUA, que mantém fiel as tradições e liturgias dos festejos do Divino do Espírito Santo, mantendo a tradição iniciada em 1862...

...que teve em seus idealizadores Francisco José Borges, da região da Braúna, Leite e Mirindiba e Antônio Teixeira de Siqueira, proprietário da Fazenda da Barra, na Barra do Pirapetinga, e que teve duas modificações de autoria de padre Mello, quando aqui chegou em 1899.


Abaixo reproduzo um excelente artigo do dr. Antônio Soares Borges, renomado dentista bom-jesuense, mas que nos últimos anos se mostrou um exímio e persistente historiador sobre nossos antepassados portugueses e sobre a riquíssima história de nossa cultura da fé católica.



Proponho esta instigante reflexão sobre o tema em questão, portanto, a escolha se deu por motivos "circunstanciais" ou teria sido movida por aspectos "providenciais"???

*1 - Publicado em "O Norte Fluminense" em 17/07/2019, na página 5.
*2 - o texto original foi escrito em Dezembro/2017 e reproduzo, a seguir, para facilitar a leitura.

RAÍZES DA FÉ E DA RELIGIOSIDADE EM BOM JESUS DO ITABAPOANA (RJ) NA SUA FESTA DE AGOSTO - PARTE V

15 de Agosto – Significado desta data marcante para Bom Jesus

Circunstância ou Providência?

Este é um assunto muito caro a qualquer bonjesuense ou bonjesuísta, de todas as épocas e idades, que, não abrem mão, de forma incondicional, de festejar a sua Festa nos tradicionais dias13, 14 e 15 de Agosto e jamais a cogitam mudar para um fim de semana próximo ou outra data qualquer, está marcado, de modo indelével, eu diria, na alma do povo desta graciosa terra banhada pelo Itabapoana, abençoada pelo Senhor Bom Jesus e, pelo sempre surpreendente, Divino Espírito Santo.

Para entender, voltemos às nossas origens e atentemos aos detalhes...
A nossa Festa se inicia nos primórdios de 1860, sendo definido o ano de 1863 como, provavelmente, aquele em que foi realizada a nossa 1ª Festa, ainda no Mês de Maio, por ser, normalmente, no calendário litúrgico, o tempo de Pentecostes, o período de Celebração do Espírito Santo. 

Esta Festa era, segundo o Pe. Mello, realizada já na Capela de Santa Rita, precedida por um Tríduo em louvor ao Espírito Santo, em que aconteciam as procissões com a Coroa, o Cetro e a Bandeira do Divino Espírito Santo que saíam da referida Capela e a ela retornavam depois de percorrer as poucas ruas do emergente povoado, terminando com a Ladainha e Missa.

Ainda no último quarto do Século XIX, portanto, a partir de uma data que esteja próxima a 1875, por causa das dificuldades com a colheita do café, que se dava em Julho e, portanto, havia uma certa dificuldade com que se tivesse dinheiro para se gastar na Festa de Maio, foi resolvido que se transferisse a Festa para Agosto, mas, não podia ser para uma data qualquer, então qual seria a mais adequada???

Passemos a pensar como se estivéssemos naquele tempo e imaginemos as dificuldades encontradas pela grande população da zona rural, muito provavelmente, em maior número do que na Sede do, então, Arraial do Senhor Bom Jesus... 

E, mais, o mesmo raciocínio se aplica em relação aos lugarejos, vilas e cidades vizinhas, afinal, é preciso ter um bom nº de pessoas para se fazer uma festa, além da programação da mesma que, muito embora, fosse feita pela Igreja,
 que, nesta época (1880), já instalada no Largo da Matriz, a nossa Praça principal atual, Governador Portela, atraía, além da motivação religiosa e devocional e sua quermesse com leilões, inúmeras novidades trazidas por comerciantes com suas “barraquinhas”, com comidas, utensílios domésticos, shows e até mesmo “cavalhadas”, portanto, a Festa “nasce” em torno da nossa Igreja primitiva (Primaz), aquela que originou a Freguesia do Senhor Bom Jesus...

Daí, seria concernente a pergunta: a Festa não deveria, então, ser marcada para o dia do seu Padroeiro, 6 de Agosto??? Ótima questão, à qual acrescento outra: e, por qual motivo não foi assim???

Hummm... E, penso com os meus botões: possivelmente por não ser feriado, ou mais, não era um “Dia Santo”, onde, ao menos à época, o povo respeitava e “guardava” o dia, não trabalhava, tinha o dia “livre” para dedicar e participar, ao menos da Santa Missa, por ser “Dia Santo”.

O nosso pensamento, diria “humano”, nos conduz logo à máxima dos romances aventurescos de Sherlock Holmes, o grande detetive inglês que, com sua inteligência perspicaz concluiria: “Elementar meu caro Watson”...

Mas, não, no nosso caso há algo mais instigante, bem distante do nosso estreito e apressado olhar humano, há uma ação que, muito além da “circunstância” nos leva à sempre surpreendente ação do Espírito Santo que, com seu toque “Divino”, nos eleva a compreensão da ação da, não menos “Divina”, “Providência”...

Até mesmo o saudoso Pe. Mello, ao aqui chegar, em Junho de 1899, e tomar conhecimento de uma Festa dedicada ao Divino Espírito Santo, em Agosto, a contestou, nas suas palavras “fez reparo”, porém, procurou compreender os motivos da mudança e, enxergou algo que o fez não só entender a “circunstância”, mas, em especial, a “providência” que o Espírito Santo conduziu, pois, o dia máximo da Festa, o Dia 15, não era um dia qualquer, era, e é ainda, o Dia da Assunção de Nossa Senhora e, como todos sabemos, Maria estava, “providencialmente”, presente no Cenáculo quando o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos e, como era Dia Santo, todos, pelos motivos expostos acima, podiam participar da Festa.

Esta é a bela explicação sobre a nossa Festa, da qual devemos nos orgulhar e unir forças em torno da nossa Igreja primitiva, aquela que guarda, fielmente, as nossas tradições mais caras e enraizadas, pois, o Senhor Bom Jesus e o Divino Espírito Santo, unindo a “circunstância” ao “providencial” divinizam o humano e, nos infundem na alma a inspiração e a memória dos dias 13,14 e 15/08, a recordar as origens, com o Tríduo que se iniciava no dia 12 a noite, continuava em 13 e 14 e, no dia 15, o ápice da Festa.


Bom Jesus, 10 de Dezembro de 2017
Antonio Soares Borges
tonioborgescd@gmail.com

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